segunda-feira, agosto 01, 2005

João.















Trem lotado, marmita na mão,
em dia de frio e nevoeiro.
Assim apressado e ligeiro,
chegou correndo João.

Nem bem entrou, a porta fechou,
trancando sua cara amassada
em meio a multidão enlatada.
Com o suave balanço até cochilou.

Em sua cabeça dançando
estavam de criança lembranças.
Como Carla e suas tranças,
menina, em sua casa brincando.

Eia que bruta solavanco !
De chofre para o trem na estação,
no colo da velhinha quase cai João.
Perdão, não deu pra segurar o tranco !

Eis que para a composição.
João salta e segue seu caminho,
absorvido na fervilhante multidão.

Rápido subiu no onibus lotado,
a carteira procurou.
Droga, logo hoje fui roubado !

Com o cobrador desenrolou,
para a viagem prosseguir.
Assim no trabalho chegou.

Do chefe foi ouvindo,
a bronca pelo atraso.

Na cara foi tinindo
mas ele não fez caso.

Trabalhando, logo tá na hora do rango !

Arroz com feijão
e um disco voador.

Não tá mole não !
Uma dureza de horror.

Que doce apito afinal,
trabalho agora só segunda.
Finalmente em casa com o pessoal !

Êta trem atrasado,
vou sair com a Raimunda
no primeiro feriado.

No balanço do trem,
João só dormitando,
cansado como ninguém.

Depois de duas horas de viagem,
andando pela rua,
olhando uma baita lua
e todo doído de friagem.

Em casa chega João,
sua filha Carla vem correndo,
seus doces logo querendo,
mal o pai vê no portão.

Um beijo em sua filha
todo o cansaço vencendo,
a longa escada descendo,
querendo logo vêr a família.

O despertador a berrar,
danada de vida dura.
Chave na fechadura,
já vai João trabalhar !


Autor : Kleverson








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